BREVE ANÁLISE SOBRE OS SONHOS

Salatiel Soares Diniz[1]
[1] Psicólogo Clínico, Gestaltterapeuta, com especialização em Arteterapia e Palestrante na área de Gestão de Pessoas. Acesse: www.salatielsoares.blgspot.com.br
Sonhos...
"Eu me conto em segredo, em verdades ocultas que sempre soube mas que não podia
saber. E, neste jogo ardiloso, vou descobrindo, surpreso e perplexo, aquilo
que sou mas que não podia ser. Mas, sempre fui sem poder saber!
Eu sonho!"
"Um dia sonhei que era EU e quando acordei descobri que vivia um NÃO-EU
Mas, em que enrascada danada eu tinha me metido,
Pois vivia no sonho e sonhava na vida."
Victor R. C. da Silva Dias

RESUMO
Para satisfazer a curiosidade de alguns colegas do curso de LC-UFRPE (Pólo Carpina) decide fazer um breve relato a respeito dos sonhos. Não se trata de nenhum trabalho científico, tampouco de estudos mais acurados a respeito do tema. Conquanto algumas considerações que acredito serem importantes para a compreensão de um fenômeno psíquico tão importante em nossas vidas, mas que, muitas vezes, não damos a devida importância.
O interesse por este trabalho deu-se a partir de uma observação feita pelo colega Antônio quando relatava um sonho que teve com uma questão de matemática. O mesmo estava estudando (Matemática Discreta) com o nosso amigo Anthoniev e, ao que parece, após uma breve soneca tivera um sonho e neste sonho conseguira resolver uma questão que até então não estavam conseguindo encontrar a resolução. Não ocasião, brincou-se com o relato feito por Antônio e alguns colegas afirmaram que só a Psicologia para explicar tal fato. Afirmei que sim, a Psicologia de fato poderia explicar o ocorrido. Por este motivo, decidi fazer um levantamento – através da internet – sobre o assunto e apresentar à turma como um material explicativo sobre o assunto.

ABSTRACT

To satisfy the curiosity of some colleagues in the course of LC-UFRPE (Pole Carpina) decides to make a brief report about the dreams. It is not any scientific work, nor of more accurate studies on the subject. While some considerations that I think are important for understanding a mental phenomenon so important in our lives, but that often does not give the due importance.
The interest in this work was made from a remark made by Mr Antônio described as a dream that took a matter of mathematics. The same was studying (Discrete Mathematics) with our friend Anthoniev and it seems that, after a short nap had a dream and this dream to resolve an issue that until then were not able to find resolution. No time, joked with the report made by Antonio and some colleagues said that only the psychology to explain this fact. I said yes, the Psychology of fact could explain what happened. For this reason, I decided to take a survey - via the Internet - on the matter and present to the class as an explanatory material on the subject.

DESENVOLVIMENTO

Deve-se levar em consideração, a priori, que por ser gestalterapeuta, obviamente, apresentar-se-á aqui considerações a partir da GESTALT-TERAPIA; obviamente sem desconsiderar as demais abordagens.
A premissa básica da Psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada como um todo, onde suas partes, ou seja, o meio, as relações interpessoais, sua vida interior, tem suas particularidades e influencias neste todo. No entanto, a soma dessas partes não refletem necessariamente esse todo. A experiência é vivenciada pelo indivíduo nestes termos, e só pode ser entendida como uma função das partes ou todos dos quais é feita.

Assim, o cliente, em suas mais variadas formas de comunicação, utiliza-se de maneiras diversas para expressar o que vem sendo vivenciado no seu dia a dia. Uma dessas formas de expressão, por sinal, muito interessante, é através do relato de um sonho.

Freud (1900), se referiu aos sonhos como uma realização disfarçada de desejos reprimidos, desenvolvendo assim técnicas de interpretação. Em outro momento, Freud (1915), se referiu aos sonhos como uma reação a um estímulo que perturba o sono.

Para Fritz Perls (1966), se alguém quiser trabalhar com os próprios sonhos, que o faça em conjunto com outra pessoa, porque, perto do ponto de angústia a pessoa ficará fóbica. Tentará evitar, fugirá, ficará subitamente sonolenta ou descobrira que tem alguma coisa muito importante a fazer. “Notarão que quem trabalha sobre os sonhos da maneira que eu sugiro, isto é, sem interpretações, sem interferência do vosso computador[1], os órgãos de pensar, deriva um grande proveito disso” (Perls, 1966, p.272).

A técnica utilizada por Perls (1966), para se trabalhar com os sonhos consiste em fazer o sonho acontecer novamente. Pede-se para o cliente que conte o sonho primeiro, normalmente, do jeito que lhe venha à memória. Após terminar de contar, deixa-o livre para escolher o que quer trabalhar no sonho. Decidido, pede-se ao cliente que conte novamente o sonho, mas desta vez, narrando no presente do indicativo, como se estivesse acontecendo no momento presente.

O interessante aqui é que normalmente percebe-se que aquilo que sonhamos é tão somente uma representação daquilo que vivenciamos em nosso cotidiano. A Gestalt entende o sonho como uma peça existencial. Nessa peça existencial cada membro, e/ou objeto, que compõem o sonho é parte integrante da psique do sonhador.

A partir do século XIX, com o médico francês Maury, deu-se início a uma nova perspectiva sobre os sonhos. Ele acreditava que os estímulos externos tinham uma importância primordial nos sonhos, inclusive que tais estímulos eram quase simultâneos aos sonhos que produziam, ou seja, se, por exemplo, alguém sonhasse que estavam cortando seu braço, provavelmente, era porque estava dormindo por cima dele.

Hoje, acredita-se que os sonhos fazem parte do ciclo normal do sono, tendo em vista as inúmeras pesquisas realizadas sobre o período de sono REM . Rapid Eyes Movement - já que esta fase tem relação com os sonhos.

Sabe-se, também, que muitas pessoas sonham quatro ou cinco vezes durante a noite, o primeiro período de sonho que é caracterizado pelos movimentos oculares rápidos do sonhador estes movimentos iniciam-se cerca de noventa minutos depois de ter começado o sono. No mesmo instante a mente cria uma história, elaborando um script que esperou pacientemente por materiais que permitiriam a sua exteriorização no nível da consciência, ou produzindo uma narrativa que conecta da melhor forma possível imagens e atividades que se relacionam (LENT, 2004).
Em certos momentos, essas histórias refletem problemas vivenciais os quais o indivíduo se vê envolvido há bastante tempo. Em outras circunstâncias os reflexos de acontecimentos vividos há poucos dias ou horas, alguns triviais, outros de importância significativa (Krippner; Carvalho, 1998).
É mister elucidar, que o a fato de sonhar é uma função natural do cérebro. No sono Rem, além de movimentos oculares rápidos, pode ocorrer excitação sexual, perda do tônus muscular e até mesmo ondas mentais que se assemelham as do estado de vigília. A necessidade da explicação do sono Rem é porque ele facilita fenômenos como: armazenagem de memória, manutenção do equilíbrio cerebral durante o repouso corporal e, nas crianças acredita-se acelerar o desenvolvimento do cérebro e a coordenação dos olhos. Todas estas explicações potenciais do período do sono Rem indicam que o cérebro que sonha é o sistema de auto-organização (Krippner; Carvalho, 1998).
A palavra sonho vem do Latim somnium (sonho, ilusão, sonhar com), embora, em Espanhol, a palavra sueño derive tanto do Latim somnium, quanto de somnus (sono, ociosidade). Para distinguir os dois vocabulários, adotou-se a palavra ensueño (sonho), a qual deriva do Latim insomnium (sonho, visão em sonhos), que, por sua vez, deriva do Grego enýpnium (sonho, visão, aparição em sonhos). Não obstante, atualmente, o vocábulo em Espanhol voltou a ser sueño. Em Francês, rêve (sonho) deriva do verbo rêver, que significava vagabundear. Posteriormente, rêver significou delirar até o século XVII, quando passou a ser utilizado no sentido atual: sonhar, ver em sonhos (Enciclopédia Mirador Internacional, 1992). No Oxford Advanced Learner.s Dictionary (Crowther, 1998), encontra-se que os sonhos são uma seqüência de cenas e sentimentos que ocorrem na mente durante o sono; um estado da mente no qual as coisas acontecem acerca de algo que não é realmente visto. (p.353).

Segundo o Novo Dicionário de Língua Portuguesa (Ferreira, 1986), sonhos são uma seqüência de fenômenos psíquicos, imagens, representações, atos, idéias, etc. que, involuntariamente, ocorrem durante o sono; seqüência de pensamentos de idéias vagas, mais ou menos agradáveis, mais ou menos incoerentes, às quais o espírito se entrega em estado de vigília, geralmente para fugir à realidade. (p. 1611).

Em dicionários técnicos, como no Dicionário Crítico de Psicanálise (Rycroft, 1975), os sonhos são considerados atividade mental que ocorre no sono, conceito igualmente encontrado no Dicionário de Psicologia (Straton & Hayes, 1994, p. 217). Um pouco diferente é o conceito encontrado na Enciclopédia Mirador Internacional (1992), onde os sonhos são considerados como processo interno que corresponde aos estados paradoxais do sono (...) o sonho é equivalente, em nível psicológico, ao chamado sono rápido, produzindo-se em concomitância com os movimentos oculares observados durante o sono.... (p. 10588)

Deve-se lembrar que na Gestalt-terapia não se interpreta sonhos. Faz-se com ele algo muito mais interessante ao invés de analisá-lo e simplesmente contá-lo; pede-se que o traga de volta à vida e revivê-lo como se ele estivesse ocorrendo agora. Em vez de contar o sonho como uma história do passado, pede-se que o encene no presente, de modo que ele se torne parte do sonhador de modo que ele realmente se envolva (KIYAN, 2006).
Trabalhando com os sonhos numa visão da Gestalt-terapia, pode-se visualizar a diferença entre a mesma e a visão popular e da interpretação dada pelos psicanalistas. Na teoria Psicanalítica os sonhos são vistos numa elaboração única. A Gestalt-terapia, tenta promover com que o cliente, conheça-se nas várias partes do sonho, que no final fará toda uma compreensão daquilo que tem evitado e o motivo central de suas neuroses (Agrassar; Cunha, 1992).
Livros bíblicos ressaltam que havia em Jerusalém vários intérpretes específicos de sonhos. Na visão da Gestalt o sonho não é abordado por livre associação ou interpretação, mas por uma descrição seguida ou não da dramatização sucessiva dos variados elementos do sonho, sempre atento para os sentimentos gestos e expressões corporais que emergem a partir de cada fenômeno representado com o qual o cliente se identifique. Cada elemento interpretado é visto como uma Gestalt inacabada ou uma forma parcial que o cliente tem de se expressar (GINGER; GINGER, 1995).
O trabalho com os sonhos não consiste simplesmente em associar palavras ou idéias, muito menos construir hipóteses, mas perceber com todos os sentidos em meu corpo e em minhas emoções o impacto das imagens, eventualmente encenadas e assim permitindo-se experienciar a encarnação do verbo aqui e agora (GINGER; GINGER, 1995).
[...] o sonho é uma mensagem existencial. Ela é mais do que uma situação inacabada; é mais do que um desejo não satisfeito; é mais do que uma profecia. È uma mensagem de você para você mesmo, para qualquer parte de você que esteja escutando. O sonho é possivelmente a expressão mais espontânea do ser humano, uma obra de arte que nós esculpimos a partir de nossas vidas. E cada parte, cada situação do sonho é uma criação do próprio sonhador. É claro que alguns pedaços vem da memória e da realidade, mas a questão importante é o que faz o sonhador escolher este pedaço específico? Nenhuma escolha no sonho é mera coincidência... Todo aspecto do sonho é uma parte do sonhador, mas uma parte que em certa medida não é reconhecida pelo sonhador como propriedade sua, sendo projetada nos outros. O que significa projeção? Que afastamos, alienamos certas partes de nós mesmos, colocando-as no mundo exterior em vez de tê-las à disposição do nosso próprio potencial. Esvaziamos uma parte de nós mesmos; nos restam buracos, vazios. Se queremos essas partes nossas de volta, temos que empregar técnicas especiais por intermédio das quais possamos reassimilar essa experiências. (pág. 27).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resumindo, como foi dito logo no início deste esboço, não estamos apresentando aqui, nenhuma novidade científica, tampouco, trata-se de um artigo, mas uma breve contribuição de minha parte para que os colegas do curso de LICENCIATURA EM COMPUTAÇÃO – que não são familiarizados com o tema - tenham uma noção, mesmo que básica, a respeito dos sonhos. Portanto, fechando as nossas observações a respeito do tema em questão, saliento que para os gestalt-terapeutas o sonho é uma estrada real de recuperação do nosso cotidiano. Devendo-se salientar que apesar dos nossos sonhos parecerem absurdos – na grande maioria das vezes – eles são a expressão mais espontânea da nossa existência. Perls considerava o sonho como uma obra de arte, a qual está sempre cheia de movimentos, lutas, encontros e outros tipos de coisas que constituem os fragmentos da nossa personalidade.
Saliento ainda que não sou nenhum especialista(estudioso) no tema, mas sempre que possível tenho trabalhado alguns sonhos no processo terapêutico com os meus pacientes e, creiam, tenho aprendido muito com eles; pois as descobertas são realmente muito interessantes.
_________
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AGRASSAR, J. S e CUNHA, S. V. B. Os Sonhos, Segundo a Gestalt-Terapia. 1992. 34f. Trabalho de Conclusão de Estágio (Formação Psicólogo) - Centro de Psicologia Aplicada, União das Escolas Superiores do Pará. Belém, 1992.
GINGER, S. & GINGER, A. Gestalt: Uma Terapia do Contato. São Paulo: Summus, 1995.
KIYAN, A. M. M. E a gestalt emerge: Vida e obra de Frederick Perls. São Paulo: Editora Altana, 2006.
KRIPPINER, S. e CARVALHO, A. P. Sonhos Exóticos: Como utilizar o Significado dos seus Sonhos. São Paulo: Summus, 1998.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios:Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Guanabara, 2004.
PERLS, F. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
Perls, F. S. (1981). A Abordagem Gestaltica e Testemunha Ocular da Terapia (2° Ed.). (J. Sanz, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar editores.

[1] Aqui, a expressão COMPUTADOR é entendida como TELA MENTAL. Expressão muito utilizada por Fritz Perls, principal teórico da Gestalt-Terapia.

Comentários

Postagens mais visitadas

FAÇA PARTE DA NOSSA TRIBO!

O PODER DO PENSAMENTO POSITIVO

Saiba como ativar uma atitude mental positiva para alcançar a prosperidade. Com uma leitura fácil e dinâmica te ajudamos a trabalhar a sua mente subconsciente com pensamentos positivos diariamente. Comprar Agora