QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO


 – porque tudo começa e termina com pessoas[1]

Este artigo busca apresentar àqueles que trabalham com pessoas a possibilidade de entender o porquê do ser humano estar sempre procurando conviver com outras pessoas e saber que, por mais virtual que seja a empresa, tudo começa e termina com pessoas.
Lembremos que, desde o início da humanidade, o homem procura conviver em sociedade de maneira harmônica e produtiva; o que nem sempre é coisa fácil. As pessoas precisam de cuidados especiais, por isso é fundamental vê-las realmente como pessoas especiais.  Valorizá-las implica em reconhecer em cada uma o seu potencial humano, mesmo que este potencial esteja adormecido. Ou pareça inexistente.
Segundo Albert Einstein (1879 – 1955), há duas formas para viver sua vida. Uma é acreditar que não existe milagre.  A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.  Em que você acredita? Aqui não apresentamos o milagre em seu contexto religioso. O milagre aqui se apresenta como uma resultante de uma condição de vida; e como estamos falando em vida no contexto organizacional, busca-se a excelência na qualidade de vida no trabalho. Até porque, todos sabem que as empresas procuram solidificar-se no mercado e tornar a sua marca atrativa aos olhos de todas as pessoas.
Mas, o que isto tem a ver com relacionamento interpessoal e, em especial, qualidade de vida no trabalho (QVT)? Ora, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com seu bem estar, uma vez que são elas as responsáveis pela capacidade de criar e agregar valor ao produto final gerado nas empresas. Ademais, o ritmo de trabalho no atual mundo competitivo tem deixado-as cada vez mais estressadas e acometidas de doenças psicossomáticas, tais como as enxaquecas, cefaléias, dermatites e as gastrointestinais. Logo, desenvolver atividades laborais tem sido um excelente divisor de águas em muitas organizações. Todavia, não basta desenvolver tais atividades quando o ambiente organizacional apresenta-se hostil e agressor. Muitas vezes, faz-se necessário um investimento maior com treinamentos e desenvolvimentos (T&D) com a equipe. Entendendo-se equipe como um conjunto de pessoas que trabalham em torno de um mesmo objetivo, ou objetivos em comum, visando à saúde e o equilíbrio organizacional da empresa.
A disputa por conquistar espaços no mercado de trabalho, muitas vezes, tolhe a criatividade e dá lugar a competição com egos inflados (e inflamados). Como resultado, vê-se o aumento do absenteísmo nas empresas. Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, a comodidade e os hábitos sedentários das pessoas aumentam, devido às grandes facilidades que a tecnologia e o conhecimento oferecem. Hoje, em um simples clique é possível mudar o canal da televisão, regular a temperatura do ar-condicionado, fazer pesquisas na internet, consultar o dicionário, sem que as pessoas se esforcem. A comodidade oriunda da tecnologia tem, em certo sentido, deixado o ser humano “preguiçoso”.
Curiosamente, é este estado de inércia quem tem provocado o aumento alucinante no ritmo de trabalho. As facilidades no mundo moderno têm provocado nas pessoas uma inquietação para preencher as suas lacunas existenciais. É sabido que o homem é um ser essencialmente social e, por isso, procura preencher essas lacunas existenciais a partir do social. Daí se explica a criação das redes sociais no atual mundo virtual. Fato que nos leva a afirmar que mesmo nos espaços virtuais, tudo começa e termina com pessoas. Somos seres relacionais desde o ventre materno. A falta desse convívio dual ou o empobrecimento em suas relações tem provocado comportamentos esquizóides. Seres vivendo cada vez mais isolados e criando personagens para se relacionarem nos espaços cibernéticos.
Em março de 2010 fomos convidados a realizar um trabalho motivacional em uma empresa que se consolidou no mercado e hoje trabalha desenvolvendo softwares para cartórios. Na ocasião preparou-se uma vivência de seis horas corridas, com o tema: “Excelência no atendimento”. O objetivo principal era trabalhar o relacional da equipe, uma vez que estava estremecida. Os programadores viviam em pé-de-guerra com os web designers. Verificou-se que muitos dos profissionais daquela empresa sentiam dificuldades em abraçar. Conviviam cerca de quarenta horas semanais, mas não conseguiam externar a afetividade de maneira positiva uns com os outros. Buscou-se, então, quebrar as muralhas existentes no grupo; e como resultado, foi criado, pelo próprio grupo, na segunda-feira (dois dias após o encontro), “o dia do afeto”. Assim, elegeu-se a segunda-feira como o dia em que a equipe – agora era uma equipe e não mais um grupo de pessoas que – se reunia para compartilhar o café da manhã, às 07h00min, com descontração, orações, abraços e o desejo mútuo de uma semana abençoada e produtiva.
Quantas empresas também não estão precisando estabelecer o dia do afeto em suas rotinas administrativas e, com isso, proporcionarem aos seus colaboradores a possibilidade de um convívio mais harmonioso e, por conseguinte, mais produtivo? Sim, produtivo. A sensação de bem-estar provoca – e ativa -, no ser humano, a capacidade de produzir e produzir com satisfação. Atitudes simples e, muitas vezes, com custo zero (ou reduzido) irão causar impacto nas pessoas. Atividades laborais são sempre muito bem vindas nos espaços de trabalho. Além de causar bem-estar à equipe previne as L.E.R (Lesão por Esforço Repetitivo). e as D.O.R.T.   ( Distúrbios Osteosmusculares Relacionados ao Trabalho).
Mas, antes que apresentemos sugestões dessas atividades é importante ressaltar alguns dados referentes à história do trabalho nas organizações. É sabido, por exemplo, que o Brasil vem demonstrando verdadeiro interesse no assunto sobre qualidade de vida no trabalho (QVT) desde a abertura econômica ocorrida no início dos anos 1990. A abertura do mercado brasileiro ao mercado exterior proporcionou novos nichos de frente de trabalho. Ou seja, com a globalização o profissional precisou se adequar aos novos paradigmas e as empresas foram impulsionadas a investirem cada vez mais em seu corpo técnico. O capital humano passa a ser considerado como mola motriz no desenvolvimento organizacional. Valorizá-lo torna-se uma condição sine qua non na corrida ao sistema globalizado. Neste novo sistema, ganha mais quem valoriza os seus colaboradores e administra o seu negócio gerindo talentos e capacitando pessoas a conviver e conquistar novas pessoas.
É bom lembrar que, na história organizacional sempre houve certa preocupação com as condições de vida do trabalhador, porém, somente após a sistematização dos métodos de produção é que estas condições passaram a ser entendidas com cunho científico (RODRIGUES, 1994). Só para reportarmo-nos à história, lembremos os ensinamentos de Euclídes de Alexandria (300 a.C.) sobre os princípios da geometria, criando a Lei das Alavancas: uma melhoria no método de trabalho dos agricultores às margens do rio Nilo (287 a.C.). Hoje, milhares de anos depois, as empresas perceberam que investir na melhoria de suas instalações, proporcionando um ambiente agradável aos colaboradores favorece a uma produção salutar. E nesta corrida, busca-se desde música ambiente as técnicas do Fung Chui[2]. Campeonatos de dominó, futebol de salão (ou de campo), basquete, vôlei, ciclismo são apenas alguns exemplos do que a empresa pode proporcionar aos seus colaboradores como recursos que propiciem bem-estar. Um espaço onde as pessoas pudessem relaxar ouvinte música ambiente e, além disso, poderem externar os seus sentimentos através da pintura, do rabisco, quem sabe, ainda, da modelagem seria, sem sombra de dúvidas um diferencial a partir dos recursos da arteterapia.[3] É possível trabalhar-se tensões provocadas pelo estresse laboral a partir de tais recursos. Assim, parar com os colaboradores para que estes possam expressar-se através da pintura a dedo, rabiscos, dança, música e modelagem os ajudam a trabalhar fantasmas que vão se acumulando ao longo de sua história de vida.


Referências bibliográficas:
LIMONGI-FRANÇA, A. C. Qualidade de vida no trabalho: conceitos, abordagens, inovações e desafios nas empresas brasileiras. Revista Brasileira de Medicina Psicossomática. Rio de Janeiro, vol.1, nº 2, p. 79-83, abr./mai./jun. 1997.
LIMONGI-FRANÇA, A. C. e RODRIGUES, A. L. Stresss e Trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1996.
PASCHOAL, L. Gestão de Pessoas: nas micros, pequenas e médias empresas – para empresários e dirigentes. Rio de Janeiro: Qualitymak, 2006.
ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
RODRIGUES, M. V. C. Qualidade de Vida no Trabalho: evolução e análise no nível gerencial. Petrópolis: Vozes, 1994.



[1] Profº Salatiel Soares Diniz – Psicólogo Clínico, Arteterapeuta, Psicólogo Perito de Trânsito, Consultor de Empresas, Pós-graduando de Gestão de Talentos e Desenvolvimento de Pessoas (FALUB), graduando em Licenciatura em Computação (UFRPE), Psicólogo e Instrutor de Informática na Creche Santa Terezinha e Lar Dom Bosco (Obra Social Salesiana, Carpina – PE), Professor da disciplina de Cidadania no Colégio Santa Joana (Carpina - PE), Professor de Psicologia Organizacional na Faculdade Joaquim Nabuco (Recife), Membro da Pastoral da Comunicação na Paróquia São José do Carpina e Administrador da Clínica de Psicologia Dom Bosco (www.clipsidombosco.blogsot.com).
[2] Técnica milenar de harmonização de ambientes.
[3] Técnica psicoterápica na qual são utilizados recursos  artísticos como instrumental terapêutico.

Comentários

Postagens mais visitadas

FAÇA PARTE DA NOSSA TRIBO!

O PODER DO PENSAMENTO POSITIVO

Saiba como ativar uma atitude mental positiva para alcançar a prosperidade. Com uma leitura fácil e dinâmica te ajudamos a trabalhar a sua mente subconsciente com pensamentos positivos diariamente. Comprar Agora